FAQ – Perguntas Frequentes

Estamos reunindo informações referentes a perguntas, dúvidas e outras informações sobre a rede Fora do Eixo. Participe! E envia você também suas questões.

 

1)  Quantas organizações compõem a rede Fora do Eixo?

Em 2012, a rede Fora do Eixo registrou 122 coletivos, 5 Casas e 400 coletivos parceiros. Em 2013, são 18 Casas, 91 Coletivos e 650 coletivos Parceiros.

A análise é que o Fora do Eixo tem investido desde 2012 naquilo que os coletivos vem chamando de “Pós Marca”, ou seja, no fortalecimento de outras redes autônomas ao FdE, à exemplo:

_Grito Rock – 300 gritos

_Rede Brasil Festival – 130 festivais

_Semana do Audiovisual (SEDA) – 80 Sedas

_Hospeda Cultura – 200 pontos de hospedagem solidária em todo o Brasil

_TNB – 15 mil usuários

Atuamos em mais de 300 cidades.

2) O que elas são – empresas, ONGs Oscips?

Associações privadas sem fins lucrativos, na sua maioria. Uma Oscip e alguns MEI’s não cadastrados.

3) Quantos CNPJs?

20 CNPJ’s mapeados, de coletivos diversos e autônomos.

4) Cada uma tem autonomia para captar recursos e participar de editais independentemente, ou há uma coordenação nacional?

Sim, cada coletivo tem autonomia para captar recursos e participar de qualquer edital público ou privado. Além disso, disponibilizamos um banco de editais e projetos colaborativos que auxiliam na formação dos menos experientes, na criação de atalhos para se elaborar novos projetos e na transparência da rede.

5) Existe um caixa único?

Não, a rede Fora do Eixo não possui um caixa único, nem um banco central. Cada coletivo é responsável pela captação e gestão administrativa e financeira de seus projetos e de seus CNPJ’s, de maneira autônoma

6) O que é o Banco Fora do Eixo?

O Banco Fora do Eixo, que atua sob os princípios da Economia Solidária, é um conselho composto por diferentes coletivos. Realiza fluxos de metodologias, desenvolvimento e aperfeiçoamento de soluções, chamadas pela rede de “aplicativos”, que estimulam a troca dos mais variados recursos econômicos entre os coletivos da rede, e auxiliam cada coletivo na sua gestão. Entre os principais aplicativos estão a moeda social (Fora do Eixo Card), a Conta Comum, o Caixa Coletivo, Projete-se (núcleos de projetos), Compacto.TEC e o Hospeda Cultura. Para saber mais informações, ver o programa da frente disponibilizado no site do Fora do Eixo.

7) Existe uma prestação de contas unificada, ou cada organização prestação de contas separadamente?

Cada coletivo tem autonomia para captar recursos e participar de qualquer edital público ou privado”,  consequentemente, tem a responsabilidade e dever de elaborar suas prestações de contas,  separadamente.

A equipe do Banco Fora do Eixo se coloca a disposição para colaborar no acompanhamento bem como tirar dúvidas sobre como realizar a prestação de contas a partir das normas de cada edital.

8) Qual é o total de recursos que a rede Fora do Eixo recebeu em 2012?

Conforme levantamento realizado via formulário aplicado junto aos coletivos no final de 2012, estima-se que a rede Fora do Eixo movimentou cerca de 5 milhões de reais, entre recursos públicos e privados. O balanço de 2012 ainda não foi finalizado, estamos reunindo esforços na rede para finalizar a coleta e publicar números mais precisos no site do Fora do Eixo. Lembrando que a gestão da rede é descentralizada e os balanços são realizados colaborativamente.

Estimativa da movimentação dos coletivos, a partir dos projetos desenvolvidos pela rede. Mas é sempre importante reforçar e reafirmar que CADA COLETIVO tem autonomia de gestão e não existe um caixa unico, portanto o Banco apenas auxilia a fazer estes levantamentos.

9) Quanto destes recursos veio de editais, quando de patrocínios e apoios, quanto de festivais, e quanto de outras fontes?

É uma conta difícil de ser feita, pois somos uma rede descentralizada de gestão e captação de recursos. Sempre trabalhamos com estimativas, a partir de planilhas colaborativas e levantamentos feitos junto aos coletivos da rede.

Estimativa 2012

Recursos Próprios (R$): 2.800.000,00 (prestação de serviços, bilheteria, doações)

Recurso Público (R$): 1.700.00.000,00

Patrocínio Privado (R$): 500.000,00

Moeda Social (Card FdE$): 62.000.000,00 (prestação de serviços não remunerados à parceiros/ parcerias; investimento em projetos próprios; trocas/permutas; doações; etc)

TOTAL: 

– R$ 5.000.000,00 (reais)

– Cards 62.000.000,00 (cards)

Estes números podem variar, como disse são estimativas, não somos uma empresa e nem temos controle dos recursos dos envolvidos.

10) Quanto veio de recursos públicos, seja via editais, patrocínios, publicidade ou qualquer outra modalidade de apoio?

R$ 1.700.000,00 aproximadamente e distribuído pelos vários pontos da rede. Não existe uma centralidade, como disse várias vezes.

11) O Fora do Eixo defende a transparência e afirma que suas contas e planilhas estão à disposição de quem quiser. Onde estão disponíveis planilhas que dêem conta de todas as movimentações do FDE?

Desde o início da rede, sistematiza as mais diversas informações e compartilhamos nas listas de atuação da rede. Temos listas pra cada frente de trabalho e uma lista geral. Ao todo, elas somam-se cerca de 100. Elas são o primeiro canal de compartilhamento da rede.

Muitas das informações que foram postadas ao longo destes 7 anos estão espalhadas em diversas planilhas e sites da rede. O esforço atual está sendo de centralizar este conteúdo para ser postado no site de Transparência do Fora do Eixo (www.foradoeixo.org.br).

A ideia é ampliar a acessibilidade às informações, bem como publicizar uma série de artigos redigidos, e criar canais de atendimento e ouvidoria para que todas as dúvidas sobre a Rede Fora do Eixo sejam respondidas. Todas as respostas aos e-mails serão publicadas no Portal FDE a fim de gerar acúmulo para discussões futuras.

Seria bom que outros coletivos e organizações fizessem o mesmo.

12) A área de “empreendimentos” do site do FDE está em manutenção pelo menos desde fevereiro passado. Por quê?

Desde 2012, estamos migrando as nossas páginas para o WordPress, a partir do exercício de construção de um projeto de engenharia de informação que responda às demandas da rede.

Enquanto isso, estamos fazendo uso do facebook para a divulgação dos empreendimentos. Segue algumas de nossas fan pages institucionais:

Fora do Eixo

Casa Fora do Eixo Minas 

Casa Fora do Eixo SP

Casa Fora do Eixo Sanca

Casa Fora do Eixo Amazônia

Casa Fora do Eixo Anápolis – não encontrada

Casa Fora do Eixo Porto Alegre

Casa Fora do Eixo Nordeste

Casa Fora do Eixo Cajazeiras

Casa Fora do Eixo Amapá

Casa Fora do Eixo Rondônia

Rede Brasil de Festivais

Pós TV

Universidade Livre FdE

Circuito Mineiro de Festivais Independentes CMFI

Circuito Paulista de Festivais Independentes CPFI

Circuito Sul de Festivais Independentes CSFI

Circuito Nordeste de Festivais Independentes CNFI

Circuito Centro Oeste de Festivais Independentes CCOFI

Circuito Amazônico de Festivais Independentes CAMZFI

Turnês Fora do Eixo

DF5

Palco FdE

TNB

Cenários Possíveis

Fora do Eixo Software Livre FESL

Cabaré FdE

Congresso FdE

Semana do Audiovisual SEDA

FdE Pernambuco

Fora do Eixo Natal

Distro FdE

FdE Card

IV Congresso Fora do Eixo

FdE Letras

FdE ES 

Agência FdE

Casa FdE Rio

Hospeda Cultura

 13) Esta planilha de prestação de contas é difícil de analisar. Às vezes os valores aparecem em número, às vezes por extenso, o que dificulta a soma direta. Por quê? (clique aqui para ver).

Essa não é uma planilha de prestação de contas, e sim um banco de dados que reúne projetos culturais elaborados por coletivos da rede e parceiros. Esse banco foi construído para uso colaborativo, em que todos pudessem trocar/ fazer uso dos textos e metodologias ali disponíveis, sempre que necessário.

Se observarem atentamente é possível ver que há um coluna chamada “Situação”, em que é possível analisar o status do projeto: se foi inscrito, elaborado, aprovado ou não aprovado. Nas demais colunas é possível observar também o valor inscrito e o valor aprovado, já que não é sempre que o valor solicitado junto aos editais, é aprovado em sua íntegra. Como se trata de um documento colaborativo, em que muitas pessoas, dos diferentes coletivos, fazem uso (preenchendo e buscando as informações que ali constam), ocorre que muitos atualizam as informações sem seguir um padrão.

14) A cada ano, nesta planilha, há projetos que não incluem resultados. A gente sabe que às vezes fica para outro ano. De todos os projetos apresentados pelo FdE, qual a proporção que é aprovada e qual a proporção rejeitada?

Isso ocorre, como dissemos, porque a planilha é gerida colaborativamente. Os coletivos disponibilizam as informações que quiserem. Como disse, não há um centralismo administrativo. Há um esforço para reunir dados, para que a partir dos indicadores gerados, possamos medir a economia e os resultados que o conjunto de coletivos atuando em rede promove.

Em relação aos projetos, a proporção de aprovados varia a cada ano. Em 2013, por exemplo, de 103 projetos elaborados e registrados no banco,  9 foram aprovados, sendo que apenas 19 coletivos registraram seus projetos. Em 2012, de 120, 28 foram aprovados.

15) O FDE já afirmou que 7% do total de seu orçamento vem de dinheiro público. No Roda Viva, você falou em 5%. Isso indica que o FDE tem um orçamento consolidado. Tem ou não tem? Se tem, você pode divulgar?

Eu disse de 3 à 7% no Roda Viva. Não possuímos um orçamento consolidado. O que temos são percentuais aproximados, que variam de ano para ano e levantamos em cima de pesquisa que aplicamos junto aos coletivos. O que temos já divulgamos.

16) E onde estão as informações sobre os investimentos de empresas privadas e receitas de outras atividades, que somam esses 95%? Esta planilha divulgada pelo FDE não contém valores nesse montante.

Como já colocamos, essa planilha que foi divulgada é um Banco de Projetos Culturais elaborados para inscrição de projetos em editais econcursos públicos e privados.

Cada coletivo é responsável por sua administração financeira. Ao final de cada ano são lançados formulários para recolher essas informações, que contribuem para levantarmos indicadores e termos um diagnóstico significativo de toda a rede. Os balanços anuais de 2010 e 2011 estão disponíveis no site https://foradoeixo.org.br/balanco/ e estamos trabalhando nos balanços de 2012 e 2013, que também serão divulgados por lá.

17) O que é a Universidade Fora do Eixo?

A Universidade Fora do Eixo é um projeto de formação, que entende a rede como ambiente de produção, circulação e trocas de conhecimentos. Cada coletivo, festival e/ou evento da rede é considerado um campus da universidade com programações que envolvem debates, colunas, imersões, conferências, seminários, encontros, oficinas, vivências e outras atividades de formação livre.

Para a UniFdE, as vivências são base do processo de aprendizagem. Quando as pessoas circulam e se encontram, elas trocam conhecimentos, saberes e tecnologias. Acreditamos que a formação é um percurso contínuo, ampliador de referências, repertórios e experiências, que compõe a trajetória de vida de cada pessoa.

A adesão à Universidade é livre, espontânea e gratuita. Ao ingressar, a pessoa torna-se um Vivente e/ou Corpo Docente que construirá, em conjunto com os integrantes do campus que frequenta, seu percurso de formação livre. Os percursos duram enquanto houver interesse por parte do Vivente e/ou Corpo Docente.

Do início de 2011 ao final de 2012, realizamos cerca de 70 colunas, 200 observatórios, 150 imersões envolvendo coletivos e parceiros, e mais de 800 vivências que aconteceram em Festivais, Casas e Pontos Fora do Eixo de todo o Brasil.

18) Quantos estudantes e quantos professores estão na Universidade Fora do Eixo?

Temos registrado o número de 3040 pessoas, de 2012 até o presente momento, que participaram de vivências ou ações da UniFdE em todas as regiões do país. Em relação ao corpo docente somam-se 510 “professores” que vão desde acadêmicos, a povos originários, passando também por quadros com formação livre em práticas alternativas diversas.

19) Os estudantes pagam? Quanto?

Todas as vivências são gratuitas. Além disso, os viventes recebem hospedagem, alimentação e acesso ao caixa coletivo para despesas básicas e adjacentes durante todo o período de sua vivência.

20) O site da Universidade Fora do Eixo lista dezenas de docentes. Eles recebem? Quanto?

Depende. O pagamento funciona no caso a caso, de acordo com a viabilidade de cada atividade.

21) Alguém já se formou nessa Universidade?

Acreditamos que a troca de conhecimento é continua e permanente, ora você aprende ora você ensina. Sendo assim, ninguém se forma na UniFdE, realiza percursos. A duração e a área de atuação dos percursos vão de acordo com o interesse de cada vivente e emitimos certificados, caso seja solicitado.

22) Qual é o orçamento da Universidade FDE, e quem gere este orçamento?

Estima-se que a Universidade Livre Fora do Eixo movimenta 8,9 milhões somando os cards e os reais, sendo 6,5 milhões em cards e R$ 1,3 milhões em reais. Como toda a rede, a UniFdE tem gestão distribuída. Cada campus tem autonomia de captar e gerir seu próprio recurso e como política da rede, estimulamos a troca e colaboração entre coletivos. Para isso, existem conselhos gestores regionais e nacional da Universidade composto por integrantes dos coletivos de todo país. Os conselhos são responsáveis por acompanhar os campus, avaliar o andamento das atividades, trocar experiências e gerir os recursos do projeto.

23) No site da Universidade Fora do Eixo, há um crédito: “Realização: Ministério da Cultura, Petrobras, Fora do Eixo”, com os logotipos. Qual a participação, e o investimento financeiro, do Ministério da Cultura e da Petrobras na Universidade Fora do Eixo?

A Universidade Fora do Eixo recebeu patrocínio no valor de R$ 590.000,00 da Petrobras, por meio da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), para a realização de um projeto de 01 ano de duração. É regra, que quando um projeto seja aprovado via Lei de Incentivo, que as marcas do Ministério da Cultura e do Governo Federal sejam aplicadas na página do projeto junto às marcas do patrocinador.

Segue a lista de atividades que foram propostas e realizadas pelo projeto:

foto 1 Uma entrevista com Pablo Capilé, do Fora do Eixo   Parte 1
foto 2 Uma entrevista com Pablo Capilé, do Fora do Eixo   Parte 1
24) A Petrobras vem sendo um grande apoiador das iniciativas do Fora do Eixo. O FDE já indicou alguém para participar das instâncias que decidem os patrocínios da Petrobras?

Não. A rede Fora do Eixo nunca indicou alguém para participar das instâncias que decidem os patrocínios da Petrobras.

25) O Fora do Eixo já apoiou candidatos a cargos públicos? Quem?

Os integrantes do FDE tem autonomia pra apoiarem candidatos pelo Brasil. Vários já o fizeram, são 5342 cidades no Brasil, não tenho como te responder com precisão quais foram apoiados.

26) O Fora do Eixo já indicou alguém para participar de governos? Quem?

Não, a rede Fora do Eixo nunca indicou alguém para participar de governos. No entanto, sempre que convidada a dar sua opinião sobre política pública e outras questões referentes, o faz.

27) Embora o FDE tenha entrado de cabeça no movimento Existe Amor em SP, contra Russomano e pró-Haddad, a secretaria de cultura de São Paulo está com Juca Ferreira, e com o chefe de gabinete Rodrigo Savazoni. Savazoni é da Casa de Cultura Digital e independente do Fora do Eixo. Você acha que o FDE mereceria mais espaço na gestão Haddad?

Não, não achamos. E temos participado de fóruns, conselhos e conferências envolvendo a sociedade civil. Acreditamos que esses são canais essenciais para fortalecer a democracia brasileira.

28) Quantas pessoas trabalham em período integral na rede Fora do Eixo?

Novamente vale dizer que estamos trabalhando com estimativas, tal como temos explicado ao longo das perguntas. A estimativa é que  600 pessoas trabalham integralmente e mais de 2 mil sejam colaboradores fixos, que participam de ações durante todo ano.

29) É obrigatório para quem trabalha em período integral no FDE morar nas Casas Fora do Eixo?

Não. A decisão de morar em uma casa, assim como a adesão a rede Fora do Eixo, é livre, espontânea e esclarecida, assim como definido em nossa Carta de Princípios.

30) Qual é a faixa etária dessas pessoas?

A rede Fora do Eixo é basicamente formada por jovens entre 16 e 35 anos. Porém há uma parcela pequena de 35 a 50. Atualmente a rede também possui crianças com faixa etária entre 09 meses e 15 anos.

31) Três pessoas diferentes me disseram que os integrantes do Fora do Eixo são pressionados a se relacionar amorosamente somente com outros integrantes do FDE. Quem quiser namorar com alguém de fora é convidado a sair do FDE. É verdade ou mentira?

Mentira. Cada um faz o que quer da vida. As relações afetivas não são determinadas por regras do movimento, mas construídas por cada indivíduo, a partir dos desejos de cada um. Sem o nome das   pessoas não é jornalismo, é especulação. E as garotas que vivem nas casas Fora do Eixo estão sendo absolutamente desrespeitadas com este tipo de afirmação. Isso sim é de um machismo intolerável. A Beatriz Seigner, por exemplo, se relacionou amorosamente com um dos integrantes da Casa São Paulo. Ninguém nunca foi convidado a sair por estar se relacionando com outra pessoa, outra mentira absurda.

32) Há relatos de que uma criança mora em uma Casa Fora do Eixo, apelidada “Bebê 2.0″. Seria filho de dois militantes do FDE, mas seria criada coletivamente, por vários “pais” e “mães”. O pai e mãe biológicos não teriam poder paterno sobre a criança. É verdade?

Mentira. O apelidado pelas mídias tradicionais de “Bebê 2.0″ se chama Benjamin Juvêncio Ninni e hoje tem 09 meses. Ele é filho de Isis Maria Juvencio e Marco Ninni (pais biológicos), atualmente moradores da Casa das Redes localizada em Brasília/DF. Logicamente o pai e a mãe são os detentores do poder familiar, até mesmo porque isso decorre de lei. Na verdade, o Benjamin conta com a proteção e carinho de todas as pessoas da Casa, como uma grande família que lhe ampara.  As decisões sobre sua educação são dos pais, o apoio é coletivo. Assim, se algum dia resolverem se desligar da rede Fora do Eixo, logicamente continuam detentores da guarda e todos os demais direitos e deveres que o poder familiar acarreta. Ficaria apenas a saudade e o carinho que todos desenvolvemos durante o processo.

33) O Fora do Eixo criou diversas moedas virtuais: Cubo Card, Goma Card, Marcianos, Lumoeda, Palafita Card e Patativa. Como elas são utilizadas?

Não são moedas virtuais, são moedas sociais. Surge na economia solidária como alternativa, complemento ao capital que é bem escasso para os pequenos empreendimentos e empreendedores. Existem centenas de moedas sociais só no Brasil e cada uma possui características próprias. A do FdE Card é pautada no “velho” escambo, ou seja, a partir das trocas de serviços, produtos e saberes. Ex: um artista quer produzir um videoclipe. Para realizá-lo, ele precisará de equipe de produção; assessoria de imprensa, e outros serviços. Os coletivos da rede podem oferecer esses serviços, em troca, por exemplo, de shows ou outros serviços e/ou produtos que ele estiver disposto a oferecer.

A moeda social é considerada um instrumento de desenvolvimento, destinada a beneficiar o mercado de trabalho dos grupos que participam da economia de suas localidades. Seu uso é restrito e a sua circulação beneficia a redistribuição dos recursos na esfera da própria comunidade. O aumento da circulação de moeda social corresponde ao aumento das transações realizadas pelos participantes dessa economia, que por sua vez aumenta o desenvolvimento social.

34) Por quê criar diversas moedas, e não uma só?

Justamente para fortalecer a lógica da descentralização. A gestão e administração próprios de cada coletivo promove mais autonomia para cada um deles. A idéia não é ser um único banco que centraliza as pequenas moedas, tampouco um único empreendimento que centraliza os pequenos coletivos. A lógica das redes é unir uma série de pequenos que conectados conseguem ganhar escala de produção, barateando custos através dos corredores que são abertos para a circulação de pessoas (artistas, produtores e jornalistas); a distribuição de produtos; a formação / qualificação dos profissionais envolvidos nessa cadeia, e principalmente, a comunicação das atividades que são realizadas.

35) Essas moedas virtuais podem ser trocadas por reais? Se sim, qual o câmbio? Se não, por quê não?

Tudo é uma questão de negociação de caso a caso. Há a possibilidade de trocar cards por reais, se devidamente negociado entre as partes. O câmbio é R$ 1 = FdE$ 1. Porém, a lógica do card prioriza a troca de serviços, produtos e saberes.

36) Quem trabalha para o Fora do Eixo recebe em moedas virtuais. Se sair do FDE, o que vai fazer com suas moedas virtuais?

Essa afirmação não está correta. Assim como em muitas organizações, na Rede Fora do Eixo existem os integrantes associados que trabalham pelo (e não para) seu empreendimento e parceiros que estabelecem relações pontuais. Ambas as formas utilizam das moedas real (R$) e social. A diferença é que o associado participa do sistema do caixa coletivo, fazendo suas retiradas por necessidades (de sobrevivência, necessidades individuais e de desenvolvimento de projetos) e o parceiro pontual estabelece um valor X por cada atividade.

Quem sai do caixa coletivo, sai com seus pertences pessoais (mesmo os que foram adquiridos dentro do processo) e os próprios ativos que a rede lhe proporcionou. Ex: contatos, networking, conhecimentos técnicos, metodológicos e linguísticos, etc. Inclusive muitos dos ex-integrantes conseguem melhores colocações no mercado do que os oferecidos antes de entrarem na rede. Além disso, os ex-integrantes continuam estabelecendo parcerias pontuais assim como os que nunca entraram, em card e em real.

37) No site da Casa Fora do Eixo, há, em destaque, um logotipo da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Qual o valor do apoio da Secretaria à Casa Fora do Eixo?

R$ 15 mil reais em 2 parcelas. A primeira de R$ 10.500,00 e a segunda de R$ 4.500,00.

38) O Estado de São Paulo é governado pelo PSDB. O Fora do Eixo aceita apoio de governos de qualquer partido?

As políticas públicas não são partidárias. Não acreditamos em política de governo, acreditamos em políticas de estado. O Estado não é o PT e muito menos o PSDB ou qualquer outro partido! Alguns partidos estão abertos ao dialogo e outros não, mas as politicas públicas independem deles.

39) O governador Geraldo Alckmin foi o principal alvo das manifestações em São Paulo. Você vê alguma contradição em receber apoio de um governo e militar contra ele?

Não, de forma alguma. A resposta da pergunta anterior já explica a questão. A participação em editais públicos não significa alinhamento partidário.

40) A homepage do Portal Fora do Eixo traz três patrocínios federais: Ministério da Cultura, programa Cultura Viva e Programa Mais Cultura. Isso não provoca no leitor uma ideia imediata de vinculação entre o FDE e o governo federal?

As marcas estavam lá, pois este foi um dos 67 projetos premiados pelo Prêmio Pontos de Mídia Livre do Ministério da Cultura, por meio do Programa  Nacional de Cultura, Educação e Cidadania – Cultura Viva. E como de praxe, é necessário a aplicação das logomarcas do Ministério, do Programa e do Governo Federal.

41) O que é o Partido da Cultura? É ligado ao Fora do Eixo?

O Partido da Cultura (PCult), movimento supra partidário (partido vem de “tomar partido”), foi criado em 2010 coletiva e solidariamente por meio da internet, com o objetivo de expor problemas e sugerir soluções que sejam operadas a partir de decisões políticas e institucionais de partidos políticos, candidatos a cargo eletivo e ocupantes de cargos públicos.

O movimento acompanha o debate de centralidade da cultura na agenda nacional, tal qual os batidos verbetes saúde, segurança, educação. O PCult aglutina diversas pessoas, entidades, redes e movimentos de todos os estados do país em torno de temas diversos, sempre na esfera cultural.

A rede Fora do Eixo é um dos movimentos integrantes do PCult, e inspirando-se em sua experiência fundou em 2012 o Partido Fora do Eixo (partido, nome fantasia), entendendo-o enquanto um laboratório de formulações de políticas de redes, com fortes referências em campos teóricos e práticos que vem sendo formulados pela sociedade civil em fóruns e instâncias de debates culturais ao longo dos últimos 10 anos. A proposta é estabelecer metodologias de trabalho próprias, novas e dinâmicas, que reforcem os processos de formação política e a afirmação de novas dinâmicas comportamentais pautados em princípios de colaboração e compartilhamento.

42) No site do Partido da Cultura, o último post é de janeiro de 2012. No twitter, de março de 2012. Ele está ativo? Pretende se constituir como partido regular e disputar eleições?

Não, ele não está ativo. E nunca foi o propósito disputar eleições ou se constituir como partido regular. Ele foi criado para levar a Cultura para o centro do debate nas Eleições de 2010. O PCult foi criado para isso, para debater políticas Públicas para a Cultura e promover o debate em torno disso.

43) O FDE vem se aproximando de Marina Silva e seu projeto de partido, a Rede, inclusive colaborando na campanha de assinaturas. Há alguém indicado pelo FDE na executiva da Rede?

Não, ninguém.

44) Se Marina Silva vencer a eleição para presidente, o FDE pretende indicar o ministro da cultura?

Se a Marina Silva vencer a eleição, será de direito e dever da mesma indicar seus ministros.

45) O Fora do Eixo costumava proclamar a política do “pós-rancor”. O termo “pós-rancor” é criação de Claudio Prado, chefe do programas de cultura digital do Ministério da Cultura na época de Gilberto Gil e Juca Ferreira. Segundo a teoria do pós-rancor, as tensões entre capital e trabalho estão superadas, o conflito agora é entre quem tem informações e quem não tem. Cláudio Prado é muito próximo do FDE, tem até programa na Pós TV. Mas nas manifestações de rua, o que não falta é rancor e polarização, ainda mais nos últimos protestos. O “pós-rancor” morreu?

O conceito do Pós Rancor não defende que não devemos sentir rancor ou que não tenhamos memória histórica de todas as injustiças acumuladas pela humanidade. Pelo contrário, reconhece seu contexto e condição e propõe ações propositivas, ou seja, luta em favor de causas e não contra. Essa mudança de olhar foi decisiva para o entendimento da lógica da abundância e da potência, da superação do medo e do protagonismo na rede.

46) Uma fonte me disse que o Fora do Eixo costuma apoiar determinados candidatos em eleições municipais e estaduais, com os militantes trabalhando diretamente nas campanhas. Se o candidato vence, o Fora do Eixo indica gente para a secretaria de cultura, geralmente pessoas que não são do FDE, mas próximas. Seriam mais de dez secretários da cultura no Brasil. É verdade?

Não. A rede Fora do Eixo, enquanto rede, não costuma apoiar candidatos em eleições municipais ou estaduais, o que acontece é que cada coletivo e/ou membro de coletivo tem total liberdade de apoiar ou não uma candidatura, mas isso se torna uma posição dele, dentro de seu território. Livre e autônoma.

47) A Mídia Ninja, como a Pós-TV, é do Fora do Eixo. O FDE recebe verbas de grandes corporações, como Vale e Petrobras. O Fora do Eixo financia a Mídia Ninja, que critica o grande capital, e principalmente a grande mídia. Afinal, FDE e a Mídia Ninja são contra o grande capital ou a favor?

Primeiro que já organizamos milhares de eventos e somente em um a Vale foi patrocinadora, no Congresso de 2011 e somente em 2 projetos das centenas que realizamos foi apoiado pela Petrobras. A rede Fora do Eixo não prega a revolução armada como metodologia de transformação social. Para entender a rede, é preciso tomar emprestado um pouco o conceito do que é Economia Solidária: “Trata-se de uma forma de produção, consumo e distribuição de riqueza (economia) centrada na valorização do ser humano e não do capital. Tem base associativista e cooperativista, e é voltada para a produção, consumo e comercialização de bens e serviços de modo autogerido, tendo como finalidade a reprodução ampliada da vida. Preconiza o entendimento do trabalho como um meio de libertação humana dentro de um processo de democratização econômica, criando uma alternativa à dimensão alienante e assalariada das relações do trabalho capitalista”.

Muitos costumam dizer que a lógica da Economia Solidária é a de um cupim no sistema capitalista. Ele “come” o sistema por dentro, muitas vezes, sem os “donos” da casa tomarem conta de sua ação.

48) Diversos apoiadores do FDE trabalham ou trabalharam na grande imprensa. A principal figura da Mídia Ninja, Bruno Torturra, trabalhou anos na Editora Trip, chegando a diretor de Redação. Contratou, demitiu, controlou orçamentos. Além da Trip, a editora faz revistas pra grandes corporações, como Gol, Pão de Açúcar e Audi. Seu emprego mais recente foi na TV Globo, como redator do programa Esquenta, com Hermano Vianna e Regina Casé. Você vê alguma contradição nisso?

Não. O fato de uma pessoa ter trabalhado em veículos da mídia tradicional não impede que ele em determinado momento assuma outra atividade, que questione esta mídia. Acreditamos, inclusive que esta experiência é parte fundamental para esta tomada de consciência e atitude.

49) Você acha que quem participa dos protestos tem consciência de que a Mídia Ninja e o FDE recebem apoio financeiro de grandes empresas, e governos de diversos partidos?

Achamos que essa é uma preocupação que não procede. A Mídia Ninja nunca recebeu apoio financeiro de grandes empresas, governos ou partidos. A rede Fora do Eixo, no caso dos projetos financiados com essas fontes de recursos, deixa sempre explícito com aplicação das marcas.

50) O Fora do Eixo costumava ser muito ativo nas redes sociais. Mas no auge das manifestações em S. Paulo, você abandonou o Twitter. Entre 11 e 18 de junho, não publicou nada, sendo que a manifestação em que a repórter da Folha foi ferida no olho aconteceu no dia 13. Coincidentemente, o twitter do Fora do Eixo tb não publicou nada entre 13 e 22 de junho. Vc só voltou ao twitter pra divulgar as transmissões da Mídia Ninja e pra anunciar que o prefeito Haddad ia baixar as tarifas. Por quê?

A rede Fora do Eixo esteve amplamente envolvida nas manifestações. Integrantes dos coletivos de todo país saíram às ruas para protestar e difundir o que acontecia em cada território, principalmente nossa equipe de comunicação, que esteve focada prioritariamente na ação da Mídia Ninja. Por isso a opção foi em usar os canais do Ninja, ao invés do Fora do Eixo.

51) No começo deste ano, o Fora do Eixo publicou na internet o glossário do FDE: termos que devem ser conhecidos e usados por todos os militantes. Outros coletivos fizeram críticas, o FdE tirou o texto do ar, depois republicou, mas com alterações. A principal: eliminou o verbete “choque pesadelo”. O verbete era assim: “Choque pesadelo: Embate conveniente direcionado a alguém que vem conflitando ideias através de críticas não propositivas que desestimulem uma pessoa, ou grupo. O choque pesadelo serve como uma fala direcionada que busca esclarecer situações através do “papo reto”. Ex. Tivemos uma conversa franca que serviu como choque pesadelo para ele. Ler também “papo reto”. Pode explicar?

O glossário é um conjunto de ‘gírias’ e jargões utilizados pelos coletivos da rede. Eles vão sempre se ressignificando com o tempo e o processo, alguns verbetes ficam, outros são aperfeiçoados. Foi o que ocorreu.

52) Muitos críticos do FDE dizem que o Fora do Eixo é uma seita, com regras rígidas para todas as ocasiões. O fato de existir um glossário tão detalhado não dá razão aos que criticam o FDE por ser uma espécie de seita?

A tentativa de classificar a rede Fora do Eixo como seita religiosa busca explicitamente difamar o projeto. A criminalização de experiências dos coletivos e redes com princípios comunitários, prejudicam não só a rede, mas todos que buscam alternativas concretas de colaboração fora dos padrões convencionais do mercado. O glossário, como eu disse, é apenas uma tentativa de registrar os vocabulários vivos que vão sendo desenvolvidos, mas está longe de definir nossa forma de atuação e ação.

53) O que é “catar e cooptar?”

Pergunte para quem nos acusa disso, esse termo não é sério o suficiente para merecer uma resposta.

54) Embora o FDE se apresente como uma rede, ex-integrantes do FDE dizem que a estrutura é totalmente verticalizada, e que você é como um guru na organização – jamais é questionado por ninguém. Quais outros integrantes do FDE têm influência próxima à sua?

As diversas acusações sobre a presença de uma liderança autoritária, projetada em mim, implicam mais uma vez na tentativa de caricaturizar novas formas de relação para além de polaridades e maniqueísmos, desqualificando os demais indivíduos da rede.

As lideranças da rede resultam, como em qualquer outra, da dedicação ao coletivo e seus participantes; e obtêm sua legitimidade e reconhecimento internos de acordo com ela.

A influência dos integrantes faz parte de uma complexa arquitetura, com diversas camadas temáticas e geográficas. Não existe uma relação linear entre influência e lideranças. Diversas decisões são tomadas e executadas diariamente sem a minha participação, e assumo as responsabilidades que a rede deposita e espera de mim. E digo mais, são poucos os movimentos com tantas lideranças espalhadas por tantos estados como o Fora do Eixo!

55) Muitos coletivos de esquerda e movimentos populares não se dão com o Fora do Eixo. É o caso do Movimento Passe Livre, do MST, Movimento Hip Hop, Ocupa São Paulo e vários outros. A que você atribui essa rejeição?

Existe algum ponto de consenso nos movimentos sociais? O que existe, no nosso entendimento, é um espaço enorme de diversidade e de disputa de narrativas e alinhamentos a partir dos valores e interesses dos movimentos. Acho complicado mais uma vez transformar dissenso, que é algo natural das sociedades democráticas, em uma questão moral que distorce a realidade.

O Movimento Nacional dos Direitos Humanos, o Movimento Ação Griô, o Movimento de Povos de Terreiro, a UJS, e vários movimentos Ambientais, Sociais e Culturais são nossos parceiros. Não conhecemos nenhum movimento que seja um consenso absoluto dentro das lutas sociais que são realizadas no Brasil e no Mundo, e isso deveria ser visto como algo natural, sem alarme e tanto alarde. Alarmante é a forma como determinados setores da cultura e da mídia brasileira tem reagido a uma pequena “ameaça” aos modelos vigentes de produção cultural e comunicação.

56) Um conhecido jornalista de esquerda, José Arbex, escreveu um texto com críticas pesadas ao Fora do Eixo, em 2011, na revista Caros Amigos: “Lulismo Fora do Eixo”. Ele conta que durante a preparação da Marcha pela Liberdade, em maio de 2011, você mencionou a possibilidade de a Coca-Cola patrocinar a marcha, e que a Coca nem fazia questão de sua marca aparecer –era só pra ficar bem com os movimentos progressistas. Outros coletivos rejeitaram o patrocínio. Várias pessoas contaram a mesma versão dessa história. Isso é verdade? Se não é, exatamente o que você disse nessa reunião? Se isso não é verdade, o que foi que você disse nessa reunião?

Isso é grande mentira. A Coca-Cola nunca ofereceu patrocínio para marcha da Liberdade ou para a rede Fora do Eixo. Essa possibilidade nunca nem foi cogitada. Não é à toa que nem em nossas festivais recebemos esse apoio ou patrocínio. Mais um mito que visa difamar a rede. O que existiu foi um debate sobre financiamento privado de coletivos e movimentos. E o José Arbex escreveu aquilo sem sequer nos conhecer, nunca visitou uma casa ou coletivo da rede, e tampouco nos entrevistou. Ele fez aquele texto usando terceiros como fonte.

57) O coletivo de esquerda chamado Passa Palavra se destaca nas críticas ao Fora do Eixo. Em um texto muito alentado, de 2011, eles afirmam que: a) o Fora do Eixo tem 57 CNPJs diferentes; b) o FDE é uma máquina de ganhar editais, que floresceu nas gestões de Gilberto Gil e Juca Ferreira no MinC, por meio do programa Cultura Viva, dirigido pro Claudio Prado. Segundo o Passa Palavra, o FDE participava da elaboração de editais da área digital do Minc, editais esses que eram vencidos pelo próprio FDE. Como você responde a essas acusações?

Todas equivocadas e mentirosas. Não temos 57 CNPJ’s diferentes, Claudio Prado não dirigiu o Programa Cultura Viva e nunca participamos de elaboração de editais da área digital do MinC. O Passa Palavra sempre fez críticas infundadas à rede Fora do Eixo. Os artigos sempre foram elaborados em cima de “achismos”. Nunca fomos pesquisados de fato por eles, nunca sequer visitaram as casas ou entrevistaram alguém que vivia ali. Achamos que para fazer um texto que quisesse de fato contribuir com as leituras sobre o atual momento, tomando uma rede com práticas tão novas como estudo, para evitar os preconceitos deveria ter havido uma pesquisa séria sobre o tema, deixando o outro lado da história ser ouvido. Na época, propusemos vários debates públicos com integrantes da rede e eles se esquivaram de todos.

58) O Fora do Eixo começou em Cuiabá, com o Festival Calango. Esse festival não existe mais, apesar do crescimento da FDE. Por quê?

O Festival Calango desempenhou papel fundamental para a cena cuiabana e para o crescimento do Fora do Eixo enquanto rede, pois possibilitou a abertura de diversas rotas, e junto a outros festivais, a consolidação de um circuito nacional de artistas, produtores e jornalistas. Acreditamos que com o papel que exerceu até aqui ele cumpriu seu ciclo.

59) Você já disse defendeu várias vezes de que os artistas que tocam em festivais não deveriam receber cachês. Por quê?

O Fora do Eixo sempre defendeu a sustentabilidade dos artistas como princípio, não estamos ajudando a construir uma rede nacional demúsica à toa. Quem ajuda na construção de rede de Festivais, circuito de turnês, sistemas de distribuição, intercâmbios internacionais e regionais, debates, oficinas e etc está pensando em sustentabilidade o tempo inteiro. E sustentabilidade não é somente cachê! Não há uma defesa para que os artistas não recebam, e sim que entendam o festival como uma plataforma de formação de público, para quem ainda não tem público formado. E mesmo assim os festivais todos buscam remunerar os artistas com os recursos que tem.

Qualquer profissional que pretende atuar no mercado de trabalho deve construir um plano de carreira pro seu empreendimento ou ser contratado por alguma empresa/ instituição. Alguns optam por serem músicos contratados de outros artistas, de estúdios, escolas e instituições de ensino, bares ou casas de shows covers. Os que optam pelo seu próprio empreendimento, devem investir para ganhar solidez a médio e longo prazo, assim como qualquer empreendimento. Nesse contexto acredito que muitos artistas deveriam encarar os festivais como parte desse investimento inicial, aproveitando dos ativos de cada localidade como formação de público, divulgação local, contatos e oportunidades de negócios pra sua própria carreira. Especialmente se é a primeira vez do artista naquele local e se o contratante não é uma empresa, corporativa, com condições de pagar seu cachê, independente dos prejuízos.

Cabe ao artista querer ou não aceitar essa condição, como também cabe ao produtor fazer sua proposta para a banda, levando em consideração a carreira dessa banda, seu reconhecimento por parte do público e sua qualidade sonora. Muitas bandas que estão começando, tem a oportunidade de tocar para mais pessoas, pois está no mesmo local que o público das diferentes atrações, que por consequência acaba conhecendo a banda.

60) Se os artistas não ganham para tocar, não ganham para divulgar música na internet, e o mercado de discos está em baixa, do que os artistas devem viver?

Primeiro, que não podemos afirmar que os artistas não ganham pra tocar, sem levar em conta o processo histórico de desenvolvimento do mercado de música independente no Brasil. O problema da sustentabilidade do artista independente não está ligado apenas as mudanças trazidas pelas novas plataformas, mas é um problema histórico.

Para quem tem um pouco de memória e mais de 23 anos é notório que o cenário da musica independente brasileira até o inicio dos anos 2000 era bem diferente. Em quase todas as cidades do Brasil os pouquíssimos espaços voltados pra música ao vivo eram dominados pelo cover. Banda autoral não tinha espaço pra se apresentar, e quando tinham não recebiam.

Neste sentido, nosso entendimento é que a a construção de plataformas coletivas, e a luta pela organização do setor musical e políticas públicas estruturantes são desafios fundamentais para a sobrevivência dos artistas nos dias de hoje. Para nós está claro que apenas a livre concorrência do mercado é uma lógica excludente e que não resolve o problema, e isso está comprovado historicamente.

Ou seja, não podemos tratar a questão de forma simplista, como se estes problemas estivessem sendo colocados agora pelas mudanças trazidas pelo Digital e também por uma discussão sobre cachês em festivais.

61) O FDE agencia shows? De que artistas? Como o FDE é remunerado por agenciar shows?

Não, não agenciamos shows.

62) Os festivais independentes de rock brasileiros eram reunidos, desde 2005, numa entidade chamada Abrafin. Qual a relação atual entre a Abrafin e o Fora do Eixo?

A Abrafin, a partir da saída dos dissidentes e da mudança de sua forma de gestão, com a criação dos circuitos regionais e a descentralização dos processos passou a se chamar Rede Brasil de Festivais. A Rede possui um grande número de festivais realizados por coletivos ou agentes ligados ou não ao Fora do Eixo. A relação com a Rede Brasil de Festivais é a mesma que tínhamos desde o inicio da Abrafin. Dar suporte à organização e gestão deste laboratório de conexão entre produtores. Vale lembrar que desde o início os produtores do Fora do Eixo contribuíram com a entidade, oferecendo quadros para auxiliarem na gestão, independente dos cargos ocupados. Nossa relação é a mesma com outras redes de cultura: incentivar e contribuir para o desenvolvimento de ações coletivas e associativas.

63) Em 2011, treze festivais independentes, incluindo alguns dos mais importantes do Brasil, como o Goiânia Noise e o Abril Pro Rock (de Recife), abandonaram a Abrafin. Alegaram que o FDE tentava impor um paradigma único a todos os festivais. E que os festivais se viam obrigados a chamar sempre os mesmo artistas ligado ao FdE. O que aconteceu de fato na Abrafin?

Primeiro que não cabe esta afirmação de modelo único e artistas ligados ao FDE. A questão foi uma discordância entre os festivais sobre o modelo de gestão. Nós entendíamos que os festivais tinham aumentado muito, naquele momento já tinham mais de 40 filiados e uma fila enorme de pedidos de filiação, já que o próprio nascimento da Abrafin deu visibilidade a esta plataforma que se espalhou pelo país inteiro, junto com o Fora do Eixo.

Neste sentido, propomos uma nova arquitetura, com a criação de circuitos regionais, para descentralizar a gestão e fazer acompanhamentos mais próximos. Ao mesmo tempo, a nova gestão  fez a proposição de ao criar os circuitos regionais diminuir o número de edições necessárias para a entrada na entidade, porque acreditava ser perverso a lógica: faça 3 edições e se sobreviver entre para o grupo seleto dos vencedores, já que entendia-se que os festivais nas suas edições iniciais necessitam mais ainda de suporte, principalmente na troca com os festivais mais experientes.

Ao contrário disso, a proposta dos festivais que saíram era que a entidade se fechasse, não recebendo mais filiados, o que para a maioria ia contra aos princípios associativos que deveriam marcar a entidade. Existia uma visão clara entre o protecionismo deliberado pelos festivais que saíram e a necessidade de ampliar os diálogos e abrir a entidade para toda esta gama de festivais que tinham nascidos inspirados pela própria Abrafin. A partir disso, como existia uma mudança organizacional entendida como necessária pela maioria dos festivais filiados naquele momento, implementamos os circuitos regionais e descentralizamos o processo de gestão, enquanto os insatisfeitos saíram e montaram depois sua entidade.

No nosso entendimento, a saída e nascimento de novas entidades fazem parte do processo de amadurecimento político do próprio segmento musical brasileiro. Pessoas com ideias similares se juntam e trabalham a partir disso. Hoje a rede se divide em 6 circuitos regionais, e lançará em breve um calendário 2013/2014 com 130 festivais integrados.

64) Você tem a informação de que festivais que abandonaram a Abrafin passaram a receber menos patrocínios? A que atribui isso?

Não temos estas informações até porque não sei o valor dos patrocínios que eles recebem, porquê não tem isso publicado em nenhum lugar acessível. Desta forma não dá pra atribuir isso a qualquer coisa. Inclusive acho que esta pergunta faria mais sentido a eles do que a nós. Contudo, nos últimos anos o mercado musical independente teve uma queda no investimento privado.

A Petrobras teve seu edital de festivais encerrados e o Conexão Vivo que era outra plataforma que investia bastante no setor acabou com a compra pela Telefônica da Vivo. Acho que eles estão vivendo o mesmo cenário que nós vivemos. Mas é só pegar o ultimo resultado do edital de festivais da Petrobras que fica mais claro isso pra você!

65) Vários artistas – o cantor China, o Daniel Peixoto (do Montage) e o Márvio dos Anjos (do Cabaret), entre muitos outros – relatam que os festivais do Fora do Eixo têm como características a infraestrutura muito simples e o não-pagamento de cachê, exceto em casos muito excepcionais. Se a infraestrutura é básica, não tem cachê, e os festivais são feitos com dinheiro de editais, para onde vai o dinheiro que sobra? Ou não sobra?

Os cachês não são exceções e menos de 30% dos festivais tiveram recursos captados via edital público, dos 100 festivais integrados a Rede Brasil de Festivais Independentes, tem de grandes festivais com ótimas estruturas quanto a pequenos que ou estão começando ou tem pouco recursos. Em 2012 foram 107 festivais  e 19 tiveram recurso via edital público o restante é feito com parcerias locais, pequenos patrocínios e ou recursos de bilheterias e bar. Em 2013 serão 130 festivais e ainda não temos todos os dados porque a maioria dos festivais acontecem agora a partir de agosto, e muitos ainda estão em processo de captação, buscando apoios, parcerias, etc.

Importante destacar que cerca dos 40% dos festivais da RBFI não são de coletivos do Fora do Eixo e integram a rede com o intuito de trocas de tecnologias de produção e alcance em divulgação. Nos festivais de coletivos da Rede Fora do Eixo que são realizadas com dinheiro público via edital todo o recurso é destinado para o próprio festival, para financiar estrutura, logística, produção, cachês, alimentações, transportes, divulgação e diversos outros servições necessários para a realização do mesmo. O mercado da música independente nacional e não apenas em grandes centros urbanos está em gestação, atingindo cada vez mais cidades do interior do país, criando uma nova agenda no circuito independente em progresso.

É visível para quem circula essas cidades e festivais um salto nas estruturas de palco, som, iluminação, atendimento, hospedagem, alimentação, cada vez mais os produtores e coletivos se qualificam. É claro que necessita de aprimoramento ligados à diversas questões estruturais do país e do setor cultural, passando por avanços nas políticas públicas para a cultura bem como maior investimento do setor privado em um mercado emergente.

66) A cineasta Beatriz Seigner divulgou um longo depoimento no Facebook. Cita um jantar na casa da diretora de marketing da Vale, onde ela e você estavam. Segundo o texto dela, você disse que era “era contra pagar cachês aos artistas, pois se pagasse valorizaria a atividade dos mesmos e incentivaria a pessoa ‘lá na ponta’ da rede, como eles dizem, a serem artistas e não ‘DUTO’ como ele precisava. Eu perguntei o que ele queria dizer com “duto”, ele falou sem a menor cerimônia: “duto, os canos por onde passam o esgoto”. Esse diálogo aconteceu?

Não, o diálogo foi apresentado de forma completamente distorcida por Beatriz Seigner. A fala que o duto seriam os artistas e que é por onde passa o esgoto nunca aconteceu. Isso poder ser confirmado por relatos de outras pessoas que também estavam presentes na ocasião. A discussão sobre os dutos que fazemos é sobre as plataformas de circulação e distribuição cultural que são prioridade de debate no Brasil.

A realidade que persiste ainda é da grande dificuldade de artistas e atores culturais de localidades fora do eixo como Rio Branco, Cuiabá, Macapá, Santa Maria, entre outros, sairem de suas cidades e circularem pelo país. Hoje o Estado não consegue dar conta dessa demanda e os dutos são os sistemas de circulação e distribuíção criados como alternativas independentes para circulação cultural.

Dentro da rede Fora do Eixo existem dutos da Música, do Audiovisual, das Artes Visuais, do Midialivrismo, da Formação Livre, entre muitos outros, que nada mais são do que as plataformas de circulação e distribuição temáticas da rede.

67) Beatriz também diz que seu filme “Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano” foi exibido em sessões que contavam com patrocinadores, mas que o dinheiro ficou sempre com o Fora do Eixo; ela não recebeu nada pela exibição durante os festivais Grito do Rock, e só conseguiu receber o dinheiro do SESC depois de muito insistir com o FDE. Isso é verdade?

Não. O SESC entrou como apoiador na sessão que ocorreu em São Carlos e como parceria em Bauru, com os coletivos locais. Nas duas ocasiões a negociação foi realizada diretamente entre o SESC de cada cidade e a empresa de Beatriz, a Miríade Filmes e Produções Artísticas Ltda. Nas duas cidades a parceria com o SESC foi somente para viabilizar essa sessão, portanto nenhum dinheiro foi para o coletivo local. Além disso no próprio contrato, há a discriminação de 50% para cachê e 50% para transporte, hospedagem e alimentação, sendo que as duas últimas necessidades foram supridas pelo próprio coletivo, no caso de Bauru por 3 dias e no caso de São Carlos 2 dias.  Para compreender a questão, sugerimos a leitura do Relatório postado no portal Transparência FdE, bem como, uma análise do Jornalista Francisco Bosco, no O Globo, e do advogado, produtor de cinema independente e professor de Produção Cultural da UFPel (Departamento: Centro de Integração do Mercosul), Rafael Geber Andreazza.

68) Diz que lhe foi pedido que seu filme tivesse o crédito “Realização Fora do Eixo”, embora o filme não tenha sido produzido pelo FDE. Isso é uma prática comum? Você considera isso um pedido normal?

O investimento realizado pelo Fora do Eixo na difusão do filme “Bollywood Dreams” teria custo superior a R$100.000,00 se fosse calculado e cobrado por uma empresa comum. A proposta de aplicar a marca do Fora do Eixo em seu filme se deu a partir de nossa compreensão dessa troca. Beatriz não aceitou, cobrando da rede sua cota mínima de patrocínio de R$ 50.000,00 em moeda corrente. Mesmo com sua recusa, entendemos que era importante realizar o investimento para fortalecer nossa  parceria e fomentar o audiovisual independente.

69) Todo o depoimento de Beatriz é muito crítico ao FDE e a você pessoalmente. Como você responde a ele?

Não tenho nada a responder do ponto de vista pessoal. Todo debate que se deu até aqui, da minha parte, foi do ponto de vista político, metodológico e conceitual. E assim será tratado até o fim.

70) “Fora do Eixo” é marca registrada. O registro no INPI é da Globo Comunicação e Participações. Pode explicar? Aqui está o registro:

NCL(8) 3582861623009/08/2006FORA DO EIXORegistroGLOBO COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S.A.NCL(8) 41

Esta marca Fora do Eixo possivelmente é referente ao programa de televisão da SporTV: http://sportv.globo.com/videos/fora-do-eixo/

Nenhuma relação com a rede cultural Fora do Eixo.

72) O Fora do Eixo vem recebendo mais e mais críticas. Agora, também de ex-integrantes do FDE. Alguns preparam publicações de novos depoimentos contra o FDE. Certamente, a imprensa vai investigar ainda mais.

Temos consciência que o debate sempre marcou nossas relações na busca pela coerência entre o discurso e a prática. Buscamos encarar as críticas como combustível para nossas reflexões e incentivo à reinvenção diária à que nos dispomos. Estamos em processo e temos consciência das dores e das delícias à que estamos expostos.

73) Com tanta publicidade negativa, dificilmente o FDE continuará recebendo apoios e patrocínios na mesma escala – afinal, empresas não querem risco na hora de escolher quem patrocinam. E necessariamente todas as contas do FDE serão examinadas com cada vez mais rigor. O Fora do Eixo – e portanto Mídia Ninja, Abrafin, Pós TV, Casas FDE, Universidade FDE etc. – está em risco de desmoronar de repente?

Vivemos num momento de grandes mudanças. As jornadas de junho no Brasil, alinhadas a diversos movimentos que correm o mundo todo hoje, mais as mudanças tecnológicas vividas recentemente nos colocam no olho do furacão, neste processo de mudanças sociais dramáticas, trazidas pelo Digital.

Somos um laboratório de experiência de rede digital único no Brasil e talvez único em todo o mundo. Trabalhamos fortemente nos últimos 10 anos dentro do circuito cultural e a pelo menos três anos estamos num diálogo constante com diversos setores da sociedade brasileira. Fazemos tudo isso de forma aberta e transparente entendendo que somos Beta, e que estamos em processo permanente de atualização. E pra completar tivemos uma enorme visibilidade nos últimos dias com o sucesso e quantidade de questionamentos que a Midia Ninja teve e trouxe.

Como movimento fortemente enraizado nas redes sociais, também recebemos os ônus e bônus de tudo que acontece ali. Ou seja, natural que um movimento que questiona sistemas de representatividade na rede, receba primeiramente os resultados disso. Pra gente essa é uma oportunidade grande de aprendizado para melhorarmos nossos processos. Não temos problema algum em receber a primeira ação tão ostensiva das redes sociais, como gostaríamos que outras entidades, estados e empresas estivessem recebendo, e realmente esperamos que esta experiência possa servir para que avancemos na construção das novas formas de participação e controle social trazidos pelo Digital.

Hoje, o Fora do Eixo representa o problema real, é o fato, o que precisa ser entendido é que nós na verdade, somos a reação ao problema real que precisamos enfrentar: as mudanças sociais dramáticas e a inadaptabilidade dos antigos modelos civicos de lidar com ela. Somos o pretexto pra um grande debate que precisa ser travado, e apesar da dor da injustiça, seguimos firmes acreditando que debate vai ganhar a profundidade necessária para que o Brasil encontre seus novos caminhos. Não. O Fora do Eixo não vai desmoronar de repente.

2 comentários sobre “FAQ – Perguntas Frequentes

  1. Como pode um coletivo de teatro participar do movimento fora do eixo, no sentido de realizar suas pesquisas cênicas, montar suas peças e criar um caminho de sustentabilidade pelo seu trabalho artístico? Há uma cartilha/site/wiki indicando como aderir nesse contexto? Há alguma casa ou pessoa de referência com quem possamos conversar/conhecer aqui no Rio de Janeiro?

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