Esclarecimentos sobre a “matéria” postada pelo Passa Palavra sobre a Republica da Cinelândia:

EM DEFESA DA LIBERDADE DE ORGANIZAÇÃO E DO DIREITO DE MANIFESTAÇÃO PARA TODOS!

Diante de mais uma campanha articulada contra a liberdade de organização, encampada por setores do ativismo que se pautam pela exclusão e pelo sectarismo e que reproduzem processos de CRIMINALIZAÇÃO E LINCHAMENTO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS E DA LUTA POPULAR, o FORA DO EIXO vem a público defender a autonomia e liberdade dos movimentos na luta por DIREITOS e DEMOCRACIA no Brasil.

Para nós, é preciso vencer uma falsa polarização!

A questão central de nossa intervenção política não é se vai ou não ter Copa. Nós acreditamos que o mais importante para o avanço da PAUTA dos movimentos e das ruas é garantir VITÓRIAS PÚBLICAS que também tenham impacto no campo institucional, e por isto mesmo não vemos como produtiva uma polarização que divide lutadores que dizem#NãoVaiTerCopa daqueles que afirmam #VaiTerCopaSim quando há uma oportunidade histórica para juntos afirmarmos que #VaiTerDireitos e#VaiTerMaisDemocracia. As duas estratégias não são excludentes. Acolhemos o #nãovaitercopa, mas não entendemos como única estratégia de luta.

Nos organizamos de forma autônoma, mas não desprezamos a realidade institucional (partidos, parlamentares, Congresso, etc.) e reivindicamos nosso direito de atuar pela articulação de vitórias públicas neste campo. Repudiamos veementemente a criminalização da relação da sociedade civil com o Estado. Ter que retroceder à defesa deste direito constitucional básico nos parece lamentável.

Por tudo isso, é importante esclarecer :

1) O Passa Palavra mente ao dizer que “revela documentos” que mostram “as intenções por trás “ da construção do projeto da Republica da Cinelândia, pois esquece de dizer que as atas reveladas eram publicas, abertas e de livre acesso para toda e qualquer pessoa que acessasse o link disponibilizado na internet. Ou seja, usa de ma fé para tentar “passar a palavra” de forma distorcida e fantasiosa. Desde a primeira reunião todas as atas estão sendo escritas e disponibilizadas para todos os participantes sem nenhum pedido de sigilo a respeito de seu conteúdo. . Em nenhum momento o Passa Palavra diz que as atas estavam abertas e públicas, sonega a informação de seus leitores e distorce profundamente as intenções daqueles que a escreveram.

2- Independente de optarmos por fazer uma construção pública e aberta da Republica da Cinelândia, e a prova disso não são as revelações do Passa Palavra, mas a própria natureza de nossa comunicação e movimento, o Fora do Eixo defende a liberdade dos movimentos sociais de construírem ações sem publiciza-las anteriormente, e acredita que uma atuação repressora por parte de grupos organizados é um ataque direto a todos os movimentos sociais brasileiros e seu direito de livre organização e livre manifestação.

3- O Passa Palavra nos “acusa” por dialogarmos com a UJS. Respeitamos os movimentos organizados e não temos nenhum problema em dialogar com eles, reconhecendo o papel que a UJS tem como movimento de juventude de nosso país. Repudiamos a atitude oportunista do Passa Palavra ao tentar construir suas teses a partir do dialogo que o Fora do Eixo estabelece com a UJS para a realização da República. A participação da UJS não foi revelada pelo Passa Palavra, e como as outras “supostas denúncias” era um fato público, e que tem na articulação da Jornada de Luta para a Juventude, iniciada em 2013, o ponto inicial de construção da relação do Fora do Eixo, não apenas com a UJS, mas com diversos movimentos organizados da juventude brasileira como MST, o LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE, a UNE, entre outros.

4- A matéria diz que existe uma estratégia do FDE para a ““construção de heróis próprios da República” mas tira completamente de contexto como a frase foi construída e em quais termos os debates estavam sendo feitos. A proposta de homenagear o artista e ativista carioca Ericson Pires, morto em 2012, dando informalmente seu nome a uma pequena praça no Catumbi, não tem nada de “heroicização”, é um ato de homenagem e memória a uma das figuras mais queridas entre os ativistas e artistas do Rio e vem de seus pares, amigos e companheiros de ação. O texto não diz inclusive que o autor da proposta é o artista carioca Alê Gabeira, que tem dezenas de projetos desenvolvidos de forma autônoma por toda a cidade e não faz parte do Fora do Eixo. Segue abaixo a íntegra da transcrição dessa fala de Alê Gabeira:

“Ericson foi um escritor, acadêmico, boêmio, poeta maldito, permeou bastante a cidade, ele tem um livro chamado Cidades Ocupadas que antecipa um pouco o movimento que a gente vive hoje de ocupações, etc. Ele foi enterrado no cemitério do Catumbi, por isso a idéia de transformar a praça em Ericson Pires e construir ali um espaço tipo de interação, e tal, pras pessoas usarem, pensarem, produzirem. Eu concordo realmente que ele mereça essa homenagem póstuma e tal, enquanto figura inspiradora, que a gente começa a fazer nossos heróis também dentro dessa história. Nós começamos a construir aqui os nossos heróis também. Ericson não era santo, era uma figura lúcida que conseguiu produzir literatura em cima disso. Isso deve ser valorizado.”

5- A matéria diz que “A “República Autônoma” é arquitetada de acordo com um conteúdo programático previamente definido” e que encena um processo de horizontalidade ao listar alguns pontos de pauta que seriam debatidos. Primeiramente, não se encena horizontalidade ao sugerir pautas que podem ou não ser incorporadas aos debates, ainda mais quando estas pautas não são de um movimento especifico, mas representam pontos fundamentais debatidos por diversos movimentos sociais hoje, como por exemplo Mobilidade e transporte público; segurança pública; crise da representação política/reforma política; crise do jornalismo/grande mídia; e legalização das drogas.

Se elas serão debatidas, e como serão debatidas é o que justamente está sendo construído, e não vemos incompatibilidade alguma entre princípios horizontais e a possibilidade dos grupos de proporem pautas. Essa desqualificação é mais uma tentativa de polarizar e criar uma falsa polêmica para comprovar a tese defendida pelo artigo.

6- A matéria alega que “A autonomia é colocada como proposta de nome, mas a “interface com o instituído” é um dos principais nortes da ocupação. Dentro das pautas propostas, ressaltam-se pontos programáticos defendidos pelo PT — 10% do PIB para a educação e a defesa da PEC 51 — de autoria do senador Lindbergh Farias”

O texto só se esquece de dizer que a PEC 51 foi escrita pelo respeitado professor/doutor da UERJ Luiz Eduardo Soares, um dos principais intelectuais do país quando o tema é segurança publica e que esta mesma PEC é defendida com veemência por politicos de diversos partidos entre eles Marcelo Freixo, Randolfe Rodrigues e Jean Wyllys, todos do PSOL, um dos partidos de oposição programática e política ao governo federal.

7 – O Passa Palavra e outros caem numa esquizofrenia, nos criticam quando usamos nossa marca e nome para organizar lutas e também nos criticam quando nos colocamos apenas como uma rede entre outras. Aqui nos acusam de “ocultar” nossas marcas, quando claramente os movimentos participantes são citados nas atas, e não se restringem apenas ao Fora do Eixo e a UJS. Isso só é grave pra quem vê gravidade em tudo para sobreviver a partir de uma lógica denuncista. A idéia da invisibilidade está ligada a cada um se ver como autônomo dentro da Republica sem necessariamente representar um movimento do qual faz parte, facilitando assim para que grupos menores, coletivos organizados e individuos diversos possam dialogar com a construção de igual pra igual.

8 – Outra acusação feita pelo Passa Palavra é de que um dos objetivos centrais da República, sob influencia governista é conduzir a mobilização fugindo do jargão Não vai ter Copa. Todos os movimentos que vivem a realidade das ruas desde as jornadas de Junho sentiram na pele o endurecimento da repressão através da forças de segurança e da criminalização impressa pela mídia, justificadas em grande parte pelo estado de sítio que a FIFA impõe ao país para garantir os interesses dos patrocinadores.

Nesse contexto a República acolhe diferentes narrativas e propostas de lutas e aponta as diferentes rotas de fuga e diferentes estéticas de protestos, evitando simplesmente repetir o que já foi totalmente capturado pela velha mídia que está sempre pronta para criminalizar os protestos.

Acolhemos o #nãovaitercopa, mas não entendemos como única estratégia de luta. Destacamos aqui que muitos grupos tem outras propostas que não o #naovaitercopa, dentre eles a UJS e mesmo os movimentos populares que protestam subvertendo e politizando o imaginário do futebol e da própria Copa.

O que o Passa Palavra propõe é o linchamento de todos esses atores e movimentos ? E a Copa Popular do movimento dos atingidos pela Copa? E os outros tantos grupos que se mobilizam em termos como o “vai ter copa e vai ter luta” ou “não vai ter a copa da Fifa” são todos traidores da luta popular ? Falta ao Passa Palavra imaginação politica e sobra intolerância com as diversas estratégias de tensionamento político colocadas.

9 – Pra finalizar acreditamos que este artigo expõe as próprias intenções e interesses do Passa Palavra em desqualificar um movimento legitimo e subestima a inteligência dos leitores, pois ao divulgar as atas, mais do que “revelar segredos”, expõe e nos ajuda a propagar um processo democrático, transparente e legitimo de individuos e movimentos construindo uma ação conjunta, onde mais do que teses retóricas, a prática é o critério da verdade.

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