Quem participou da imersão do sudeste, no Rio de Janeiro, entrou junto num Beijaço na Praia do Arpoador, que durou alguns segundos. Tempo suficiente pra que os momentos posteriores fossem unicamente dedicados às reflexões sobre o significado do que havia ocorrido. O Beijaço não teve nada a ver com a sexualização entre rapazes, mas serviu como um exercício forte para a abertura de outras possibilidades na relação entre homens.
O final da novela, por exemplo, apresentou um personagem gay tentando trocar um carinho com o pai. Ele solta, ao por do sol, um “Eu te amo!”. O patriarca – que bateu, gritou, renegou e que precisou do próprio filho para sobreviver – desarmado responde: “Eu também”. Digna de transformações, consideramos que essa necessidade não é exclusiva dos homossexuais. Existem héteros mal resolvidos na questão do trato.
Com a perspectiva inerente de um atentado aos vícios culturalmente introjetados em cada um, vale lembrar que o Brasil é machista, preconceituoso, homofóbico, racista, e não dialoga com as diferenças. A Lei que criminaliza a homofobia está parada em Brasília.
A intervenção na Praia do Arpoador, durante o segundo maior encontro blocado do Fora do Eixo após o Congresso FdE 2013, alimentou símbolos emitidos desde dezembro e ganhou continuidade com os debates que seguiram até o fim da imersão.
Um choque de realidade que, no final, terminava num: o que é um beijo no contexto onde as pessoas moram, trabalham, expõem carências, necessidades de avanços, conquistas coletivas, crescimento pessoal, enfim, desenvolvem uma série de processos extremamente íntimos? Um beijo pode virar apenas estética e, antes disso, uma quebra de estigmas que impedem avanços pessoais.
Mesmo que a intenção tenha um cunho político, os Beijos do Arpoador apresentam ainda uma ideia de que há tempo de se abrir a outros arranjos não testados de sexualidade e apontou também que um novo mundo possível tem que trazer em sua essência a pluralidade e a diversidade. E quem disse que, além das características pré-estabelecidas, não possamos estar dispostos à construção de diferentes formas de expressão entre nós mesmos, né?
As mulheres não ficaram para trás!
Sobre o Fora do Armário
Frente que debate o tema da diversidade sexual na rede Fora do Eixo. Hoje, o Fora do Eixo Gay é Fora do Armário. Ou simplesmente FOdA.