MANIFESTO DAS MULHERES DO FORA DO EIXO

Brasil, 26 de agosto de 2013

As companheir@s, amig@s, parceir@s e outros interessad@s,

Frente aos debates em torno da rede Fora do Eixo, em especial os temas que envolvem o Feminismo, as mulheres da rede vem a público se manifestar sobre as seguintes questões:

O Fora do Eixo tem uma rede de mulheres, denominada Femininas, que foi criada em 2009, com o intuito de promover programas que fortaleçam a ação política de gênero na rede e fora dela. Busca ainda consolidar meios de cooperação entre as mulheres e em seus campos de atuação e ativismo.

Somos mulheres ativistas, jovens e adultas entre 17 e 55 anos, de diferentes grupos étnicos. Somos artistas, jornalistas, midialivristas, radialistas, produtoras, gestoras culturais, pesquisadoras, ambientalistas, advogadas e tantas mais. Ocupamos papéis de liderança, tanto em nossos territórios, como em toda rede, e estamos em processo permanente de articulação política junto a coletivos e redes parceiras em todas as frentes em que atuamos, no Brasil e em outros países da América Latina.

Temos compromisso com o Movimento Feminista e LGBT. Repudiamos qualquer tentativa de desqualificação da nossa militância, e percebemos que nesse debate, muitos homens tem projetado leituras equivocadas em relação a nossas práticas nos temas feministas. Claramente, são frutos de uma visão machista e preconceituosa, que projeta o conservadorismo, a incapacidade de análise de conjuntura e, sobretudo, a tentativa de suscitar o medo para apunhalar qualquer tentativa de invenção e experimento de novas práticas sociais.

As mulheres da rede Fora do Eixo não se submetem e nem fazem uso de qualquer tipo de manipulação ou assédio sexual a qualquer pessoa. Novamente reforçamos que estas acusações são gravíssimas e quem as coloca tem que estar preparado para prová-las. Colocações nesse campo, além de serem desrespeitosas, constituem atos de calúnia e difamação. Ao nosso ver, isso sim, é de um machismo intolerável.

Não há na rede Fora do Eixo qualquer tipo de restrição ou controle às diversas formas de relações, independente de gêneros, que as pessoas estabelecem dentro ou fora da rede. Amor livre, monogâmico, entre gays, héteros e bissexuais, ou seja, entre qualquer identidade de gênero, são múltiplas visões sobre o tema dentro dos coletivos. Não há posições institucionais sobre isso. As relações afetivas não são determinadas por regras do movimento, mas construídas por cada indivíduo, a partir dos desejos de cada um. Diálogos sobre sexo, sexualidade e relacionamentos acontecem em qualquer campo da sociedade.

Acreditamos que o corpo humano é o primeiro território de autonomia do ser. Por isso, para nós os direitos das mulheres, tais como liberdade sexual, direito ao aborto, à liberdade de pensamento, à participação política, à informação, à educação e à vida, são essenciais. Debatemos na rede o amor proprietário; o amor livre; o sexo casual; o sexo monogâmico; o sexo homossexual e outros. Cada um deles são opções individuais, portanto, não institucionais, mas que podem e devem ser debatidas sem moralismo.

Para nós, a opção pela vida coletiva e comunitária, que desafia visões de mundo conservadoras, é luta feminista em sua essência, pois ousa contrapor práticas hegemônicas a partir da construção e fortalecimento de experiências que buscam resignificar formas de convivência, um dos grandes desafios das sociedades no século XXI.

Casos de violência e/ou assédio contra a mulher. Temos 01 (um) caso registrado, e que foi tratado publicamente na ocasião. Qualquer ação nesse sentido tem como premissa resposta rápida e coerente ao contexto envolvido. Vale dizer que a violência aqui citada refere-se a aspectos físicos, psicológicos e morais. E que nas últimas semanas, nós, mulheres do FdE, e nossos filhos, temos sido violentadas por inúmeras pessoas, que insistem em desqualificar a nossa autonomia e o nosso protagonismo.

Sabemos que o machismo foi uma das primeiras formas de opressão e domínio do outro. Entendemos que esse é um paradigma social e histórico, um desafio que o conjunto da sociedade precisa encarar e sistematicamente resolver. Não somos coniventes a ele, e lutamos, dentro e fora da rede Fora do Eixo, todos os dias, pela superação desse paradigma.

Acreditamos seriamente que os laboratórios de tecnologias sociais que temos construído, pautados sobretudo, nas experiências de gestão de recursos através dos caixas coletivos, são projetos políticos, que têm na sua essência a prática da generosidade, do compartilhamento, do desapego e da confiança. Valores transformadores em um mundo profundamente marcado pelo individualismo e pela ganância.

A rede Fora do Eixo, no início de suas atividades, tinha ações enraizadas no setor da música. Hoje transita nos mais diferentes temas: da economia coletiva ao meio ambiente; das políticas públicas às artes visuais; da formação livre à circulação de artistas. Acreditamos que esse percurso foi essencial para o avanço de nossas experiências, e que essas conquistas foram resultado, principalmente, da ação das mulheres que aqui trabalham trabalham.

Naturalmente registramos equívocos ao longo de nossa trajetória. Pensamos, no entanto, que erros e acertos fazem parte de percursos humanos, e sobretudo, quando derivados de processos comunitários, cabe ao coletivo assumi-los e superá-los. Qualquer negação em relação a isso, seria contestar o que consideramos essencial para a transformação de mundo: a emancipação e o protagonismo individual, a noção de responsabilidade de que cada um de nós é parte desta construção. É isso que debatemos e praticamos em nossos coletivos.

Lamentamos por aqueles que viveram e/ou de alguma forma vivenciaram relações junto a rede e acreditam que o saldo da experiência tenha sido negativo. Esperamos que isso não os impeçam de experimentar novas práticas coletivas, pois acreditamos que outras formas de redes são possíveis.

Por fim, a todos, contem conosco sempre na luta por justiça social e igualdade de direitos. Igualmente na luta pela democratização dos meios de comunicação; pela Reforma Política; pelo Marco civil da Internet; pelo direito ao aborto; pela Reforma Tributária; por melhores políticas ambientais e de drogas, pela cultura, pelo direito a moradia e a terra, contra o racismo e a homofobia e em tantas outras agendas importantes para a promoção de uma sociedade mais justa. Para nós, o conjunto dessas lutas também é parte fundamental para o empoderamento das mulheres na sociedade.

Abraços solidários,

Nós, mulheres abaixo assinadas, participantes da rede Fora do Eixo, estamos no lugar em que desejamos: no movimento

Ana Pessoa – Casa Fora do Eixo Pelotas | Pelotas (RS)
Ana Caroline de Castilhos Lottin – Coletivo Barriga Verde | Rio do Sul (SC)
Ana Luiza – Casa Fora do Eixo VItória da Conquista | Vitória da Conquista (BA)
Beatriz Domingues – Casa Fora do Eixo Amazônia | Belém (PA)
Bianca Lima – Casa Fora do Eixo Sul | Porto Alegre (RS)
Camila Vertuoso – Coletivo Barriga Verde | Rio do Sul (SC)
Carol Tokuyo – Casa das Redes | Brasília (DF)
Cláudia Rocha – Casa Santa Maria | Santa Maria (RS)
Claudia Schulz – Casa Fora do Eixo Porto Alegre | Porto Alegre (RS)
Debora Andrade – Casa das Redes | Brasília (CE)
Dríade Aguiar – Casa Fora do Eixo SP | São Paulo (SP)
Elisa Maia – Coletivo Difusão | Manaus (AM)
Elídia Vidal – Casa Juiz de Fora | Juiz de Fora (MG)
Fernanda Quevedo – Casa Fora do Eixo Sul | Porto Alegre
Gabriela Marques – Casa Fora do Eixo Amapá | Macapá (AP)
Gabriela Garcia – Casa Fora do Eixo Rio | Rio de Janeiro (RJ)
Heluana Quintas – Casa Amapá | Macapá (AP)
Irlana Cassini – Casa Fora do Eixo SP | São Paulo (SP)
Isis Maria – Casa das Redes | Brasília
Jasmine Giovannini – Casa Fora do Eixo Minas | Belo Horizonte (MG)
Jessica Costa – Canoa Cultural | Boa Vista (RR)
Karinny de Magalhães – Casa Fora do Eixo Amapá | Macapá (AP)
Karla Fabiana Lins Cordeiro – Coletivo Mundo | João Pessoa (PB)
Karla Martins – Gestora Cultural | Rio de Janeiro (RJ)
Leticia Pocaia – Colombina | Taquaritinga (SP)
Lenissa Lenza – Casa das Redes | Brasília (DF)
Lóris Canhetti – vivente Casa das Redes | Brasília (DF)
Louise Trindade – Casa Fora do Eixo Bauru | Bauru (SP)
Luiza Areas – Coletivo Mundo | João Pessoa (PB)
Luiza Bittencourt – Ponte Plural | Niterói (RJ)
Mariana Pedrozo – Piracema | Piracicaba (SP)
Mariana Rebelatto – Casa Fora do Eixo Juiz de Fora | Juiz de Fora (MG)
Maria Conceição de sene Faria – Família NINJA | Cuiabá (MT)
Maria de Lourdes Oliveira Juvêncio – Familia Casa das Redes | Brasília (DF)
Marielle Ramires – Casa das Redes | Brasília (DF)
Mariana Iacono – Joven Vivendo com HIV | Manaus (AM)
Marina Capilé – Parceira Casa das Redes | Brasília (DF)
Michelle Andrews – Casa Fora do Eixo Amazônia | Belém (PA)
Nathalia Fernandes – Fuligem | Ribeirão Preto (SP)
Nina Magalhães – Popfuzz | Maceió (AL)
Raíssa Galvão – Casa Fora do Eixo Minas | Belo Horizonte (MG)
Rafaela Rocha – Casa Fora do Eixo Minas | Belo Horizonte
Regina Ramires Nunes Pinto – Parceira Casa das Redes | Brasília (DF)
Renata Prado – Coletivo Fuligem | Ribeirão Preto (SP)
Simone Essi – Espaço 50 | São Bernardo do Campo (SP)
Silvia Villar – Casa Colorida | Madrid (Espanha)
Thais Andrade – Casa Fora do Eixo NE | Fortaleza (NE)
Valéria Cordeiro – Casa Fora do Eixo NE | Fortaleza (NE)
Vanessa Cabral – Popfuzz | Maceió (AL)

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